Hoje tem relato de uma mamãe que viveu momentos difíceis quanto à amamentação. Ela aprendeu tanto nos primeiros meses da sua filha em relação à amamentação que veio compartilhar com a gente suas experiências e aprendizados. Com vocês, minha amiga Cintia, mamãe, dedicada e sortuda!
"Não é fácil ser mãe. As mães sempre falam isso, mas nenhuma - nunca - conseguirá expressar o quão difícil e trabalhoso é. Mas também nunca farão as pessoas entenderem o quão gratificante e maravilhoso é.
No primeiro dia de vida da minha pequena meu peito feriu. A pediatra que foi nos avaliar disse "se sua filha golfar ou evacuar sangue, não se preocupe porque é seu e não dela". Começamos bem. Uma coisa que nunca haviam me dito é que o leite não sai assim que o bebê nasce e como eu sofri com isso. Minha filha não conseguia sugar e - para o leite sair - ela precisaria fazer isso. No hospital mesmo sugeriram que eu comprasse um intermediário (bico de silicone). Meu marido e minha sogra saíram pra buscar.
No dia seguinte, saímos do hospital. Chegando em casa o desespero começou. Minha filha chegou em casa com as bochechas vermelhas / roxas de tanto apertarem para a ensinarem a mamar. Ela ainda não conseguia sugar sozinha e eu não tinha leite. Minha princesa esguelava de fome e eu chorava de dó e medo de não ter leite, já que meu sonho sempre foi amamentar (depois vi que não ter leite não é o fim do mundo). A gente vê as mães amamentando na tv e acha lindo, acha fácil, mas eu só chorava. Graças a Deus eu contava com o apoio do meu marido, que chegou a sair tarde da noite pra buscar complemento (afinal nossa filha não poderia morrer de fome) e me apoiou muito enquanto o leite não vinha. Fui ter leite por volta do sexto dia, o que me disseram depois ser normal.
No sétimo dia fomos fazer exame do pezinho e teríamos a consulta de egresso com a pediatra. Minha filha só chorava. A pediatra me encaminhou para a maternidade para que as enfermeiras me ajudassem, pois minha filha estava com fome e teríamos que tentar tirar o intermediário. Voltei à maternidade mais vezes para pedir ajuda, fui a banco de leite... mas o intermediário continuava lá. Tentei muito, até que a moça do banco de leite disse "sua filha está mamando e ganhando peso. Pra que a estressar e te estressar? Deixa isso (intermediário) aí". Ela estava certa. Nós duas já estávamos cansadas dessa história. Ficamos bem. Era o fim da briga entre mãe e filha versus intermediário. Mas as pessoas não podiam nos deixar em paz. Achavam um absurdo a menina usar um bico para mamar, já que a mãe tinha o bico do peito ótimo. Eu me sentia péssima. Me sentia a pior mãe do mundo. Não queria mais sair de casa para não ouvir mais represálias. Cheguei a ir embora dos lugares porque não aguentava mais ouvir críticas. Ninguém estava passando pelo que eu passava. Ninguém viu o quanto Anna e eu nos esforçamos por uma amamentação sem o intermediário, porque “é o certo”. Estávamos esgotadas! Mas com 3 meses, ela ainda mamava apenas com o intermediário e estávamos sobrevivendo a isso tudo.
No início, achava que meu leite não ia sair, mas depois começou a empedrar. As duas primeiras vezes eu consegui tirar com ajuda de enfermeiras. A terceira vez não saiu. Eu fazia massagem como haviam me ensinado e aquela pedrinha insistia em não sair dali. Quando assustei, estava com metade do seio empedrado e bem vermelho. Era mastite. Sim, aquele leite empedrado se tornou uma inflamação na mama. É impossível descrever a dor e o desconforto que isso causa. Minha ginecologista me orientou a ir ao banco de leite do hospital Odete Valadares (eles são ótimos. Se tiverem problemas com amamentação, corram para lá), a moça fez massagem, ordenhou, fez compressa gelada (nunca quente.
A orientação que as pessoas nos dão é errada porque a água quente faz produzir mais leite e a situação piora), mas nada tirava a pedra de lá. Saí do banco de leite e fui avaliada por médicos que não conseguiram encontrar um abscesso para realizar a punção e me receitaram antibióticos. Até então, achei que drenariam o leite empedrado. Seis dias depois fui ao pronto socorro por não estar aguentando de dor. A médica pediu uma ultrassonografia e - durante o ultrassom - foi feita uma punção. A médica tirou 150 ml de pus do meu peito utilizando seringas. Foi um alívio, mas o seio ficou roxo, duro e ainda dolorido. Fui ao médico. Tive que drenar. Ele abriu um buraco no meu seio, colocou uma mangueirinha e deixou o pus saindo por alguns dias. O curativo ficava encharcado e eu tinha que trocar sempre. Era horrível. Continuei tomando antibiótico e depois anti-inflamatório. No dia que coloquei o dreno, ainda no hospital a Anna gritava o tempo todo. Toda hora ia uma enfermeira atrás da gente pra saber do que precisávamos. Meu marido tentava acalmar a menina e nada. Teve uma hora que peguei o soro e fui atrás dele porque não aguentava mais ouvi-la chorar. Eles estavam em outro andar, acreditam?! E parecia que estavam do meu lado de tão alto que ela berrava. Estava com curativo no peito, soro do outro lado e ela no colo. Fui atrás da médica pedir alta porque precisava tirar minha filha dali.
Saí do hospital por volta das 22h.Chegando em casa, a pequena não sossegava. Estava trocando o curativo, parei na metade pra ficar com ela. Abracei-a e fui conversando com ela. O berreiro virou choramingo até ela dormir. Meu problema era a dor. Mas fiquei com ela no colo por um bom tempo. A dor só aumentava, mas eu quem precisava acalentá-la. Ela não aceitava ninguém além de mim. Ouvi coisas absurdas nesse período, como "é bom que agora você para de amamentar, não sei quem inventou que isso é bom", "você é doida de amamentar sua filha com esse pus no peito", "você vai amamentar mesmo com esse dreno? Faz mal" e por aí vai. Foi muito difícil. Fiquei um tempo sem dar banho na pequena porque doía, colocar pra arrotar era uma tortura, carregar nem sempre era é fácil... mas ser mãe é isso aí. Quem disse que seria fácil?!
Apesar se ouvir muita gente me desanimando, me desencorajando, ainda amamento minha florzinha (agora com 6 meses). Escrevo para mostrar minha experiência. Escrevo para mostrar o que a falta de informação pode fazer com as pessoas. Mamães, não deixem que os seios de vocês cheguem ao ponto que o meu chegou. Os cuidados abaixo são muito importantes e nem sempre devidamente divulgados:
- O bebê deve fazer a pega correta na hora da amamentação. Experimente posições diferentes para amamentar, para ver se o bebê pega melhor o seio.
- Esvazie totalmente o seio após a amamentação, caso o bebê não tenha feito isso.
- Não use sutiã meia-taça com ferrinho, não usar sutiã apertado, não dormir de bruços... evite pressão excessiva sobre as mamas para prevenir o desenvolvimento de bactérias.
- Evite que a sua resistência fique baixa, repousando bastante (como se isso fosse possível com um recém-nascido em casa) e mantendo uma boa alimentação.
- Após o término da mamada, é importante espremer os mamilos para retirar a saliva do bebê que ficou retida durante a sucção, pois nela estão as bactérias que porem causar mastite. Outra coisa que eu nunca tinha ouvido falar e – no meu caso – a mastite foi por bactérias e o médico disse que quase sempre vem da boca do bebê.
E o mais importante: não se desespere.
Não desista.
A fase difícil vai passar!
Cintia Muniz"