quinta-feira, 9 de abril de 2015

Sentidos do Nascer



A vida! Ah, a vida!

O que fazemos além de arriscar em uma vida intensa e inesquecível?

Vivenciamos certas coisas que acreditamos que só nós sabemos entender e explicar. E tudo faz sentido! Existem momentos na vida que não estavam escritos em nenhum manual de instruções, em nenhum romance famoso e em nenhuma letra de música agradável aos ouvidos... Como o nascimento dos nossos filhos.

Tem dias que fico pensando no parto do meu filho e tentando fazer com que minha mente não perca cada detalhe daquele passado. Rezando para que eu envelheça preservando minhas memórias. Que eu esteja consciente o bastante para vê-lo envelhecer com o mesmo olhar, carregado de esperança, que eu vi abrir para o mundo (e para mim). 

O parto é um momento lindo e único. Que mamãe não enche os olhos de água quando se lembra da primeira vez que viu e pegou seu bebê?


A vida passa tão, mas tão rápido! Hoje eles nascem, amanhã eles falam, no fim de semana eles formam e na semana que vem eles casam.

Vamos acompanhar cada conquista, guardar momentos especiais e esquecer tantos outros. 

Quando descobrimos a gravidez é um sentimento de medo e felicidade. Ao longo da gestação somos lembradas, tocadas e preferidas, mas é no nascimento que nos sentimos especiais. Especiais por receber um tesouro (a vida). Especiais por descobrirmos que alguém nos admira pelo cheiro, pelo sabor e pelo calor.

Lembro como se fosse amanhã. Sim! Como se ainda estivesse para acontecer e só de imaginar já desse um friozinho na barriga.

Durante a minha gestação não fiz nada para “preparar” meu corpo. Pelo contrário... Comi e fiz tudo o que quis. Engordei 30 quilos. Se arrependo da comilança? Ah! Sou uma mamãe sortuda (se isso responde...)! Minha vida perdeu o sentido (que a sociedade adoraria dar) depois que meu filho nasceu.

Eu estava tão feliz com a minha condição de gestante que na terça-feira, dia 13/12/2011, estava eu, por volta de 20 horas, comendo macarrão na chapa. Em plenas muitas semanas de gestação (completaria 42 semanas no dia seguinte). Disso sim eu posso dizer que me arrependo. Risos! 

Cheguei em casa, tomei banho e fui dormir. Dormir? Toda mãe sabe que é impossível dormir nos últimos dias. Então, retificando... Cheguei em casa e devo ter comido alguma coisa ainda, depois tomei banho e antes de deitar, com certeza, ainda comi melancia. Ao deitar, não consegui dormir e fui para o quarto que seria do Davi futricar as roupinhas pela enésima vez. 

A primeira contração foi 22:30 em ponto. Eu, metódica que sou, sempre anotava tudo. Naquele momento eu entendi o que as pessoas dizem que “quando chegar a hora você saberá”. Isso nunca fez sentido durante a gravidez, mas a gente sempre sabe a hora e se não sabe acaba descobrindo.

Eu sabia que Davi ia nascer, mas antes eu precisava fazer tudo que tinha lido e ouvido que deveria fazer: ginástica, controle da respiração, movimentos, banho quente... E minha barriga naquele ritmo!

Só decidi ir para o hospital por volta de 01:30 da manhã, pois as contrações estavam menos espaçadas. Não desesperei para ir ao hospital. Minha bolsa não tinha estourado e tinha lido que o primeiro trabalho de parto poderia durar horas e horas. Estava super tranquila, o que ajuda muito no trabalho de parto. Sabia que seria a última noite do barrigão. 

A vantagem de entrar em trabalho de parto pela noitada é que não tem trânsito para chegar à maternidade. Isso é importante quando não se mora perto (na época eu morava há 30 quilômetros de onde eu queria ganhar meu filho). 

Antes de partir para a maternidade, ainda quis tomar um último banho quente e vestir um vestidinho que era minha segunda pele. Risos! Ah! Eu não estava nem aí. Fui de chinelo, pijama, descabelada e sem unha feita. Vestida "inadequadamente" para muitos e muitas. 

Na maternidade não tinha ninguém. Cheguei, fiz a ficha para uma consulta com o plantonista (eu tinha decidido que meu parto seria com plantonista) e estava calmamente esperando ser chamada. 

Na consulta, o médico disse que eu estava com contrações, mas sem dilatações (acho que eles falam isso com quase todas as mães). Faria até sentido, para mim que não sou obstetra, olhando meu cartão de pré-natal e verificando que eu estava com 2 de dilatação há algum tempo e naquele momento (há umas 3-4 horas de trabalho de parto) ainda estava com 2.

O médico prontamente, claro e obviamente, recomendou a cesariana, pois meu filho não poderia ficar tanto tempo na minha barriga (eu e minhas 42 semanas de gestação). 

Sabe o que eu disse? “Ah! Está bem! Vou dar uma volta para pensar e volto aqui para seguirmos com o parto”. Ele disse que me esperava. Saí da sala e fui conversar com todas as enfermeiras e técnicas que encontrei na reta e perguntar sobre o médico que tinha me atendido, se ele era uma boa referência. Encontrei uma profissional que conversou carinhosamente comigo e disse que, se eu conseguisse, voltasse 7 da manhã, pois seria o horário da troca de plantão. Outro médico poderia me olhar. E o que eu fiz? Fui embora, claro! Agora muitas pessoas vão achar que sou extremamente irresponsável e sem vocação para a maternidade... É! Hoje eu até acho que fui um pouco irresponsável mesmo, mas fico muito feliz por ter decidido ir embora, se não fosse assim, minha história seria outra. Acho que faria igual se voltasse no tempo.

Fui para a casa da minha mãe, que era mais perto. Ela ficou comigo o tempo todo a partir daquele momento (vó de primeira viagem). 

A madrugada foi sem dormir e sem deixar ninguém dormir. Não que eu fosse escandalosa, mas chega um momento das contrações em que dá uma vontade incontrolável de morder alguma coisa e fazer muita força. Claro que nesse momento podem ser comuns alguns gritos de força. Risos!

Chegou um momento em que eu comecei a sentir muita falta de ar e a vomitar a alma (ou o macarrão na chapa onde eu tinha me acabado naquela noite).

Por volta de 5:30 da manhã eu já estava cansada, sem dormir, e pensando que 7 horas não chegava nunca (para a troca do plantão na maternidade).

Decidi voltar para o hospital quando minha mãe disse “esse menino vai nascer aqui, na cama”. Nunca que eu deixaria minha mãe, que nunca tinha feito um parto, virar minha parteira de última hora. Risos!

Voltei para o hospital, mas ainda não tinha acontecido a troca de plantão das 7 horas. Aff! Que agonia. Por sorte (lê-se: por falta dela), o mesmo médico plantonista me atendeu e, olhando seriamente, questionou: “onde você estava?”. Eu? Eu estava há cerca de 8 horas em trabalho de parto. Ele me avaliou e deu o veredito: vai ser parto normal. “Tem uns 7 de dilatação”. É! Acho que minha mãe tinha razão. Eu ia parir naturalmente em um quarto na casa dos meus pais se eu não tivesse voltado para a maternidade.

O médico perguntou se eu queria ir para o bloco e eu disse que preferiria ir me arrumar no quarto. Acreditem, eu tomei banho quente mais uma vez, conversei com minha mãe, vi um pouco de televisão... Agora leiam como realmente aconteceu: tomei banho na tentativa de aliviar as contrações que já estavam fortíssimas, mas eu queria viver aquele momento, sendo a própria autora do meu parto; lembro da minha mãe dizer: “arruma esse cabelo” e eu falar comigo mesma: “cabelo é a última coisa no mundo que eu vou querer arrumar agora”; a televisão estava ligada porque nem sei quem ligou, mas lembro que ainda prestei atenção em algumas notícia que passavam no jornal. Risos! Eu estava firma na luta!

As meninas da enfermagem vieram trocar minhas roupas e me levar para o bloco. Isso devia ser umas 7:00 da manhã e eu ainda conseguia andar. Acredite, mulher, você é capaz de ter filhos porque você tem toda a força do mundo. Não ouça a sociedade que te acha frágil, tampouco se julgue frágil.

No bloco, perguntaram se eu queria receber a anestesia ou esperar mais um pouco. Hoje penso que eu poderia ter esperado. Afinal, que diferença faria ser anestesiada 7 da manhã para alguém que estava desde 22:30 na aventura do parto? Mas acho que o cansaço já falava mais alto dentro de mim. Passei a noite toda sem dormir. Naquela correria e ansiedade toda. Fato era que eu estava cansada e me rendi à tentação sedutora da anestesia (imaginando que isso facilitaria muita coisa). 

Fui levada à sala de anestesia e aí começou um sentimento de medo. Comecei a lembrar de todas as histórias que as pessoas adoram contar para grávidas, de que não pode nem respirar no momento da anestesia e outras coisas aterrorizantes. Ai! Pra que mentir? É tudo mentira! A anestesia não é nenhuma missão impossível. Tudo dá certo. Já reparou quantas mulheres no mundo ganham seus filhos com anestesia? Eu nunca vi histórias reais sobre algum desastre da anestesia (ainda bem).

Fui anestesiada às 7:25 (tinha um relógio imenso bem na minha frente). Os médicos (obstetra, pediatra e sei lá quantos mais) disseram que ele já estava nascendo e que eu fizesse força nos momentos das contrações. 

Foi ali, no bloco, que minha bolsa (ou mala de viagem com três compartimentos) estourou. Parecia o segundo dilúvio. Decidiram até me trocar de sala no bloco, porque onde eu estava ficou intransitável. Risos!

Lembro-me de entrar na sala "seca" e olhar no relógio 9:25. Para mim, aquele momento em diante pareceu umas duas horas, mas meu filho nasceu 9:30 em ponto. 

O meu corpo fazia uma força inexplicável. Eu sentia minha barriga movimentando-se estranhamente. Minhas mãos segurando fortemente tudo o que estava ao meu alcance. Meus olhos, fechados, em ritmo com todo o meu corpo. A sintonia do parto. Meu filho nasceu quando senti meu corpo (e minha alma) respirando a vida. Não lembro dele chorar. Ele chegou em meus braços ainda sujo, mas de olhos grandes e abertos. E ele me olhou, como eu nunca tinha sido olhada. Naquele momento, compreendemos, eu e ele, os sentidos do nascer.

Pouco tempo depois do parto...


Acredito que tudo o que vivi com ele (desde a estadia em meu ventre) influenciou fortemente no que somos hoje. Algumas pessoas dizem que temos um cordão umbilical virtual. Compreendemo-nos pelos olhares, nossa primeira forma de comunicação. Fortemente influenciados, claro, pelos hormônios do amor.

Na manhã do dia seguinte... Já em casa!


Ah! Se você chegou até aqui (e eu agradeço pela persistência em ler), deve estar com uma pergunta na cabeça... Qual o meu objetivo neste post? 

Bem, como pode ser visto na minha história, quase eu passei pela experiência de uma cesariana desnecessária, porque um profissional não queria esperar mais um pouquinho para o meu filho nascer. 

Infelizmente conheço várias mamães que têm a mesma queixa que a minha, de profissionais apressadinhos demais, que não conseguem esperar o tempo (e o desejo) da mamãe e do seu bebê. 

Nosso sonho de parto não deveria ser negligenciado. 

Por isso tudo vou fazer um convite...

Outro dia estava andando pelo campus da Universidade onde estudo e vi o cartaz sobre a exposição Sentidos do Nascer. O objetivo da exposição, que tem financiamento e apoio do CNPq, do Ministério da Saúde, da Fundação Bill & Mellinda Gates e do Unicef, é “contribuir para a mudança da percepção sobre o nascimento, incentivando a valorização do parto normal para a redução da cesariana desnecessária”. 

A ideia é viver, reviver ou ressignificar a experiência do parto e refletir sobre o ato inaugural da vida. 

Eu tive que ir conferir de perto para compartilhar com vocês...

O Que Tem de Bom?

Instalada em três contêineres e cinco ambientes, a exposição, que é interativa e sensorial, é uma boa oportunidade para refletir sobre o mundo materno e paterno, sobre a gravidez e o nascimento.
Ao entrar na exposição você poderá ficar grávida/grávido com a ajuda de uma projeção. 

Senti saudades do meu barrigão! Vejam minha foto...


Você ganha um adesivo de um bebezinho no útero para colar na barriga.

Em seguida, você entra no "Mercado do Parto", que funciona como um mercado: com produtos à venda, mas que fazem uma crítica à forma como a gestação e o parto são tratados (como um negócio comercial). 

Eu morri de rir lendo as embalagens dos produtos. Só conferindo de perto para entender.


Contêineres

Corredor Controverso – alguns personagens conversam entre si, por meio de monitores, sobre as diferentes visões do parto e as falas que casais grávidos escutam durante a gestação de seus filhos. Adorei! Vivenciei muitas falas que ouvi das pessoas durante a gravidez. A verdade nua e crua.

Útero – eu fique apaixonada com esse lugar! Simula um útero. As lágrimas rolaram em meu rosto. Fiquei super emocionada! Você poderá ouvir sons de batimento cardíaco e ruídos de água semelhantes aos sons que a criança ouve quando está no ventre da mamãe. Você pode sentar em um sofá macio que representa a placenta, enrolar no cordão umbilical e depois “nascer” ou renascer. A sensação de nascer foi muito divertida. Cada vez que eu parava para dar mais uma andadinha (é super estreito e apertado), eu lembrava das minhas contrações e do meu filho nascendo. 


Grande Colo – tem uma mamãe de braços abertos te esperando nascer, além do espaço de convivência com fotos, vídeos e muitas informações.

Painéis

Abordam os seguintes temas:
1 – o tempo – a pressa ao retirar o bebê e o tempo necessário ao parto;
2 – o nascimento na história;
3 – parto natural humanizado, as boas práticas;
4 – cesariana – informações sobre a cirurgia;
5 – de quem é o parto – sobre o protagonismo da mulher;
6 – prematuridade – o que é e o seu aumento no Brasil;
7 – violência obstétrica – sofrida pelas mulheres brasileiras em seus partos.

Além de tudo isso, você ganhará um Plano de Parto que poderá ser muito útil para planejar seu parto e tem vários folhetos explicativos sobre esse momento especial e único.

Local da Exposição

A exposição esteve no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais e agora está no Parque Municipal de Belo Horizonte (onde ficará até o fim de abril), em seguida segue para o Boulevard Shopping (maio).

Se você não é uma mamãe mineira, não precisa ficar triste! A exposição ainda poderá ser vista no Rio de Janeiro (junho e julho), Niterói (agosto) e Brasília (outubro).

Mamães, papais, famílias e você que nem tem filhos e nem está grávida (ou grávido), fica a dica. Eu fui e fiquei super empolgada. É um local para refletirmos sobre muitas coisas e sentirmos tantas outras. 

Espero que gostem e sintam-se envolvidas.
E se quiser contar sobre sua aventura do parto, pode contar: contato@mamaesortuda.com

Algumas informações técnicas sobre Sentidos do Nascer consultei nos seguintes links:

Beijos!


Fernanda Garrides





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2 comentários:

  1. Fernanda Garrides,
    que lindo texto!
    Acho que você poderia continuar falando e acrescentar todos os passos destes primeiros anos do Davi e assim prosseguir contando desta sua vivência , cheia de verdades, valores e sentimentos, que devem mesmo serem compartilhados com mais jovens gestantes e mamães outras sortudas como você, Heloísa e demais participantes desta página.
    Li desejando ler e ler muito mais, me deliciando com suas palavras, sua experiência e convicção de jovem mãe cheia de maturidade e inteligência emocional.
    Parabéns !
    Salve o parto natural humanizado!

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    1. Maurício, obrigada pelas carinhosas palavras. Obrigada por ser um profissional da saúde que atua de maneira tão humanizada. Fico feliz por você nos acompanhar e espero que um dia você nos escreva contando sobre sua experiência de vovô sortudo.

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Obrigada!
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