quarta-feira, 11 de maio de 2016

Equoterapia: Entrevista com Nauali Mushen e Vanessa da Silva




Fiquei mais de 1 ano na fila de espera da equoterapia, quando de repente Paulo ( pai do Daniel) me disse que havia conseguido a vaga. Dizendo ele  o Cavalo Solidário aqui de Brasília fica no RCG ( que é uma área militar), logo militares tem preferencia na fila. Ele me passou toda a papelada que precisava levar e no dia fui conversar com a professora que seria do Daniel. O nome dela é Nauali Muhsen, psicóloga com formação em psicológica clínica e educacional e trabalha com equoterapia há 18 anos. Ela foi muito atenciosa e Daniel desde o primeiro instante que a viu já se apaixonou. Ele ficou quase 1 ano sendo aluno dela e depois teve que trocar, sendo sua professora a Vanessa da Silva, fonoaudióloga há 20 anos com especialização em psicopedagogia clínica e institucional, que também conquistou meu filho.
Tive o prazer de entrevistar essas duas pessoas e profissionais que tanto admiro, e que, como falei no ultimo post, elas são as profissionais que irei sentir falta e que tenho um carinho enorme. A da esquerda é a fonoaudióloga que atende o Daniel na equoterapia, Vanessa da Silva Freire Santos e a da direita e a psicóloga que foi a primeira a atender Daniel na equoterapia, Nauali Muhsen.
Tentei fazer perguntas que sinto que são mais frequentas para as pessoas que não sabem sobre autismo e algumas duvidas para pessoas que convivem com o autismo. Entrevista maravilhosa. Queria, desde já, agradecer o carinho e o tempo que cederam a mim Vanessa e Nauali.
 
Déborah: Qual a abordagem que você utiliza como Psicóloga para as crianças autistas na Equoterapia?

Nauali: Na Equoterapia há um procedimento padronizado para todos os alunos. Mas com os autistas priorizamos a formação do vínculo, rotina e focamos também na estimulação da comunicação, contato visual e percepção do ambiente e do cavalo. Algumas crianças já chegam com interesse no cavalo, e outras não demonstram perceber ou se interessar pelo mesmo, o que é raro, mas acontece. Alguns autistas não gostam de se aproximar do cavalo de frente. Outros já querem tocar, cheirar, observar a boca. Mas todos, após este contato de exploração, apreciam o movimento do cavalo. Realizado este momento de aproximação e contato exploramos comportamentos que precisam ser trabalhados, aspectos pedagógicos e motores.

Déborah: Qual a porcentagem de alunos autistas na Equoterapia em relação a outras crianças?
Nauali: O número de crianças com autismo vem aumentando bastante na Equoterapia. Nossa lista de espera é enorme e a grande maioria é de autistas. Há alguns anos atendíamos mais pessoas com Síndrome de Down, deficiências físicas e intelectuais. Hoje, no nosso Centro de Equoterapia 80% de nossos alunos são autistas. Vem acontecendo todo um movimento de divulgação, valorização e reconhecimento com leis e direitos adquiridos, fazendo com que as famílias tenham também mais acesso a atendimentos complementares como é o caso da Equoterapia.
Déborah: Há a possibilidade de você realizar alguma abordagem terapêutica durante a sessão?

Nauali: Sim, claro! Todo o processo de Equoterapia quando realizado por um Psicólogo envolve uma abordagem terapêutica. Utilizamos técnicas psicológicas que adaptamos ao ambiente equoterápico. Dependendo do grau de comprometimento, é possível também realizarmos psicoterapia sobre o cavalo, neste caso mais comuns com adolescentes e adultos. Aproveitamos o ambiente altamente motivador, o movimento do cavalo e o que ele nos traz de emoções e sensações e trabalhamos estes aspectos.
Déborah: Como você vê a Equoterapia para o autista?
Nauali: Como um espaço de exploração de sensações e estímulos muito eficaz. Além de maravilhosa! Eles chegam inseguros, resistentes, como foi o caso do Daniel, com intolerâncias, não querendo contato, apegado a mãe, com choro. E a partir do momento que vamos conquistando nosso espaço, junto com o cavalo, digo conquistando, porque este processo não acontece de um dia par o outro, podemos proporcionar sensações indescritíveis nestas crianças maravilhosas. É uma relação de conquista e de amor, porque quando um autista aceita uma pessoa, ele aceita incondicionalmente, assim como o cavalo faz. Mas tem que ser conquistado... E eu tenho que ser merecedora dessa confiança. Parece fácil, mas na verdade é um grande desafio profissional.


Déborah: Uma última pergunta. Você acha que eles tem algo a ensinar a você?

Nauali: Eu tenho a convicção de que aprendo muito mais com eles do que ensino. Eu conheço sobre o Autismo mas cada criança que chega é um ser individual, com suas peculiaridades próprias, então aprendo todos os dias... Porque é um exercício de humildade, tolerância, de respeito e de esperar realmente o momento do outro. Não é o meu ritmo que importa, mas sim o tempo de outro. E estes anjos azuis tem muito a nos falar e ensinar com seu silêncio e peculiaridades. Me sinto privilegiada de poder oferecer algo a eles e mais gratificada ainda de aprender com eles todos os dias.
Déborah: Qual a porcentagem de pacientes autistas em seu consultório?

Vanessa: 60% das crianças que atendo no consultório são autistas.

Déborah: Me fale um pouco sobre a linguagem do autista.

Vanessa: Geralmente não há alterações nas estruturas do Sistema Fonoarticulatório das crianças autistas. A dificuldade de linguagem para o autista deriva da complexidade para a iniciativa de comunicação. Ou seja, há uma dificuldade para iniciar e para expressar suas vontades e seus sentimentos. Então passa a utilizar gestos para se comunicar. Muitas crianças autistas não adquirem a linguagem verbal, e as verbalizadas, podem apresentar "embaraço" em construir diálogos e de se expressar no contexto. Na equoterapia, o trabalho do fonoaudiólogo é diferente do trabalho realizado no consultório. Na equoterapia, o foco não é clínico. O objetivo da Fonoaudiologia na equoterapia é adquirir postura correta de cabeça, pescoço e corpo, para melhorar o tônus muscular, controle respiratório e coordenação pneumo-fonoarticulatória ( coordenação de fala e respiração), como também durante a sessão, estimular a linguagem. Porém não há como fazer uma sessão clínica. Um exemplo de estimulação de linguagem através do cavalo, é quando a criança autista que não verbaliza, começa a emitir o nome do cavalo e outras palavras significativas. Geralmente, aguardo a emissão por iniciativa da criança na sessão de equoterapia e, se isso não ocorre, estimulo a repetir o que digo ou solicito que faça algo com o cavalo (abrace, passe as mãos no pêlo do cavalo, etc). Esses gestos com o cavalo levam a criança a fazer o mesmo com as pessoas, ficando mais sociáveis. Ou seja, o comportamento com o cavalo passa a ser repetido e se estende a outros ambientes. 


Déborah: O único papel do fonoaudiólogo é a comunicação verbal?


Vanessa: O objetivo principal da Fonoaudiologia é a comunicação verbal, ou seja, a fala como finalidade de comunicação (conversação/diálogo). Porém, quando essa verbalização não acontece, o papel  fonoaudiólogo é encontrar outro tipo de comunicação, seja ela alternativa, que se adapte a cada criança não verbal. A falta de um canal de comunicação gera muitos problemas, como: gritos, choro, birras, comportamentos inadequados. A criança não consegue falar o que deseja ou o que sente e passa a se expressar de forma inapropriada, causando tensão nas relações interpessoais.

Déborah:  Uma ultima pergunta. Por que o fato da criança balbuciar ou falar algumas palavras, faz com que as pessoas acreditem que a criança irá falar ? Isso é verdadeiro?


Vanessa: Primeiramente, há a necessidade de distinguir fala de comunicação. Muitas vezes a criança fala vocábulos isolados ou apenas repete palavras ou repete sons, sem se comunicar, simplesmente repete. Dessa forma, a fala não tem objetivo de comunicação com o outro.  Nesse exemplo, existe fala e não existe comunicação. Então, pelo fato da criança apenas "falar" palavras isoladas não demonstra que ela irá se comunicar, pois a fala tem como objetivo a comunicação. Porém, a criança verbal, mesmo que pela repetição, tem um melhor prognóstico para a comunicação que a criança não verbal, pois já existe um primeiro sinal de comunicação, que é a fala. Dessa forma, o fonoaudiólogo deverá estimular/trabalhar a  "fala" da criança com a finalidade de comunicar-se.


Essa foi uma homenagem que a professora Vanessa juntamente com sua filha Maria Laura fizeram para Daniel no dia 02 de Abril.

Espero que essas entrevistas tenham sido importantes para todas as pessoas. Que tenham tirado dúvidas, e esclarecido fatos. Queria dizer também que estou aberta a perguntas, dúvidas e que se algum leitor se interessar por um tema, que me mande um email.

Um grande beijo em todos e ate daqui 15 dias


Déborah de Melo Gouvêa 


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