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quinta-feira, 30 de junho de 2016

Mãe tem cara de quê? #parte02

Era fim de tarde. Ele estava brincando no playground do parque e eu por perto, sem o perder de vista entre tantas crianças. Uma jovem aproximou. Aparentava vinte e poucos anos, assim como eu. Entoava, algumas vezes, que acompanhava o irmão mais novo, como quem quisesse dizer que não possuía idade suficiente para estar ali como mãe. Meu filho apareceu no alto do playground e gritou:

- Mamãe, olha onde estou!

Acenei e ele logo entrou no brinquedo para outra aventura. Não demorou muito para a jovem questionar:

- Ele é seu filho??? 

E sem que eu terminasse de responder, a próxima pergunta já estava elaborada:

- Mas quantos anos você tem?

- Alguns invernos, mas não passei dos 25 ainda. Respondi sorrindo.

- Nossa! É que você não tem cara de mãe!


Ela continuou:

- Mas ele fica com sua mãe, não é?

Então quer dizer que mães "jovens" não têm capacidade de cuidar dos seus filhos?

- Claro que não! Minha mãe é muito atarefada e não tem obrigação alguma. Ele fica na escolinha enquanto trabalho e estudo. 

- Você trabalha? E estuda? Perguntou ela surpresa por encontrar uma mãe "jovem, que trabalha e estuda".

- Sim! Sempre estudei. Cursava uma faculdade quando descobri a gravidez e ainda prestei vestibular novamente e mudei de curso. 

Ela ficou surpresa e continuou a conversa com uma série de interrogatórios. Passado um tempo, disse que estava na hora de ir. Foi ao playground e tentou arrancar de lá o bebê que estava acompanhando. Seguiu andando, foi quando ouvi um choro próximo de "mamama" e o bebê a fitar aquela jovem que, já um pouco distante, disse:

- Sem choro! A mamãe vai carregar você no colo.

Entendi então o quanto ela deveria ouvir que uma mãe jovem teria dificuldades para trabalhar e estudar, que precisaria da avó para cuidar da criança... Eu também ouvi e ainda ouço esses comentários, mas aprendi que não é vergonha ser a "mãe jovem". 

Ela, tão mãe quanto eu, simplesmente achou que eu não tinha a "cara de mãe".

Estávamos ali, partilhando do mesmo amor, dos julgamentos e da experiência de ser mãe quando ninguém sabe ou lembra que somos.