quinta-feira, 25 de julho de 2019

Carta para Rafael - Férias, Congresso, Cirurgia e novo tratamento.

Bom dia, meu amor!
Que frio tem feito esses dias, né? Até você que é super calorento tem sentido frio, imagina! 

O frio de Belo Horizonte é diferente do frio de Gramado, não é? Lembra de Gramado? 
Quando a mamãe ficou doente e prometeu não comer chocolate, programamos várias viagens e lugares para comemorar e voltar a comer em grande estilo quando eu estivesse curada.
Assim que o tio Enaldo falou que eu estava em remissão, o papai comprou nossa viagem para Gramado e foi uma viagem maravilhosa, a vovó e o vovô foram com a gente e passeamos muito, você adorou, conquistou todo mundo e fez vários amigos, principalmente no hotel na hora do café da manhã, onde a tia Lena fazia seu ovo mexido, seu suquinho de laranja e você abria um sorrisão toda vez que a via. 



 Alguns dias antes da viagem, a mamãe teve consulta com a tia Malu e ela reparou algumas manchas vermelhas ao lado da mama direita e pediu para observar. Eu falei para ela não inventar moda e que não era nada. Viajamos e as manchas aumentaram um pouco. Quando voltei, estava com uma dor na axila esquerda e quando apalpava, parecia um cordão linfático, tipo um tendão e a tia Malu falou que podia ser devido ao esforço da viagem. 
Eu iria fazer a cirurgia na sexta feira dia 14/06 e na sexta anterior tive medicação. Mostrei para o tio Enaldo e ele falou que pediria para a tia Malu retirar além da mama o linfonodo sentinela, mas que não precisava preocupar, porque ele iria só aproveitar a cirurgia.
A tia Malu pediu um US com biópsia para investigar e na quinta feira de manhã, um dia antes da cirurgia no dia da abertura do Congresso da Mame Bem, ela me pediu para ir ao consultório dela de manhã. O papai estava viajando e eu não conseguia parar de chorar, fui ao tio Nazir antes e ele tentou me acalmar, conversou comigo, mas não adiantou, eu estava nervosa mesmo e no consultório ela falou que tinha sido encontrado células cancerígenas no linfonodo e que a cirurgia ia mudar. Além de fazer a retirada preventiva da mama, ela também iria fazer o esvaziamento axilar, mas que nada tinha mudado em relação ao tratamento, que talvez a gente tivesse que acrescentar uma medicação, mas que não era para pensar nisso e aproveitar a nossa participação no congresso.

Não consegui pensar muito sobre o assunto, chorei muito no carro indo para casa e no caminho liguei para o tio Nazir que me mandou agradecer porque Deus tinha me mostrado isso antes da cirurgia e que era possível viver sem os linfonodos dos dois lados e ainda brincou:

- "Agora você vai morar lá na clínica e vamos continuar cuidando de você!" rsrs... 


Cheguei em casa, contei para a vovó e para a tia Míriam. Almocei e fui correndo para o salão fazer uma maquiagem bem linda e me arrumar para a nossa participação na abertura do congresso da Mame Bem! 
Você lembra da tia Tati?
Ela que desconfiou que tinha algo errado na drenagem da linfa da mama da mamãe e ligou para a tia Malu lá aaaa atrás no início disso tudo.
Pois é, ela organizou um congresso de amamentação e quem inspirou o tema do congresso fomos nós! "EU MUDO O MUNDO"
E ela nos convidou para participar da abertura e claro que a gente não poderia deixar de estar presentes, né?
O papai estava em São Paulo e não podia nos acompanhar, então a vovó e a tia Míriam foram conosco e foi muito lindo e emocionante. Todo mundo chorou e no final, recebemos muitos abraços e energias positivas. 
Ficamos lá até tarde e chegando em casa rapidinho fomos dormir. 


Acordei muito cedo no dia seguinte e na hora do banho pensei: Não vou fazer essa cirurgia. 
O tio Xande veio me buscar para levar ao hospital e na hora de despedir dele eu falei: 

- Daqui a pouco eu te ligo e você vem me buscar, não vou fazer a cirurgia. 
- "Você está doida? Claro que você vai fazer."

Quando assinei os papéis para dar entrada na internação, perguntei quanto tempo eu tinha para operar sem ter que repetir os exames e a secretária respondeu 1 mês. Ótimo! 

O papai ainda estava em São Paulo e eu queria muito que ele estivesse comigo naquele momento, porque ele tem um jeitinho todo fofo e especial para me acalmar. Antes de ir para a sala de cirurgia eu falei com ele que não iria operar e ele falou que eu tinha que operar porque o tio Enaldo precisava do resultado desse exame para continuar o tratamento, mas eu estava decidida. 

Tudo aconteceu muito pontual e subimos para o bloco cirúrgico. A vovó não falou nada, mas eu sei que ela estava bem aflita. Eu falei com a enfermeira que não ia trocar de roupa porque queria conversar com a tia Malu antes e fiquei sentada conversando com o papai pelo telefone, que ficou tentando me convencer. Eu estava muito nervosa e fui ao banheiro umas 4 vezes. A tia Bárbara chegou, ela é da equipe da tia Malu e é uma fofaaaa. Ela ficou segurando minha mão e expliquei o porquê não queria operar, falei que não estava segura, que não tinha digerido ainda a cirurgia, que estava preparada para a reconstrução e podia até sair com o silicone de uma vez e que não tinha tido tempo para pensar no assunto. 
Eu não conseguia parar de chorar e ela ficou comigo até a tia Malu chegar. 

A tia Malu chegou e tentei negociar, rsrs... 
Pedi para ela tentar não tirar todos os linfonodos, que eu fazia rádio depois e que eu só conseguia pensar em como seria minha vida depois e que eu não ia mais poder te carregar e isso nunca ia acontecer porque eu iria querer te carregar, então provavelmente eu teria problemas. Então ela prometeu tirar o mínimo possível. 
Aproveitei e pedi a ela para tirar um pedacinho da pele do outro lado que estava vermelha e mandar para a biópsia, porque eu não queria mais pensar nisso. Ela concordou. 
O tio Alfonso chegou e me mandou seguir meu coração e que como provavelmente eu precisasse de rádio, ele então colocaria o expansor. 
Falei que meu coração estava me mandando sair correndo, mas que minha cabeça sabia que era importante essa cirurgia e que eu iria fazer. 

Avisei ao papai e ele falou que iria adiantar a voo para chegar a noite. 
Entrei para a sala de cirurgia e o anestesista era o tio Marlen, o mesmo que anestesiou a mamãe quando você nasceu, ele é muito fofo e perguntei aonde ele ia pegar a veia, na perna ou no pescoço e ele falou que preferia no pescoço, fiquei um pouco tensa e ele falou que ia colocar e que se eu não me sentisse confortável ele tiraria, mas que a veia estava muito boa. 
Ele puncionou e eu nem senti. Me pediu para virar o pescoço de um lado para o outro duas vezes e eu nem senti. A tia Malu segurou minha mão e perguntou se estava tudo bem. Respondi: 

- Tudo bem, então daqui a 5 mi nu tos.... (nem sei se terminei a frase) 

Quando acordei a tia Bárbara da equipe do tio Alfonso estava terminando de me enfaixar e perguntei quantos linfonodos eles tinham tirado e ela respondeu que achava que tinha sido bastante. Comecei a chorar e a fazer mil perguntas. Ela me pediu para ficar calma que estava tudo bem e eu fiquei falando que estava tudo diferente da primeira cirurgia e eu não gostava de mudanças. rsrsrs
Fui para a sala de recuperação e estava me sentindo super bem, fiquei conversando um tempão com a enfermeira, falei de você, choreeeei, ri e elas me levaram para o quarto. 
Cheguei no quarto e a vovó estava esperando. 
Me senti super bem o resto dos dias, mas pedi para ficar um dia a mais para poder ir para casa sem o dreno e assim aconteceu. 

O resultado do anatomopatológico ia ficar pronto em uma terça feira, mas na segunda acordei cedo, liguei no laboratório e estava pronto. Eu estava muito segura que o resultado do exame da pele não iria dar em nada, mas em contrapartida já esperava que daria alguma coisa na peça de mama retirada, porque a tia Malu falou que tinha visto áreas de fibrose durante a cirurgia.
Fui buscar o resultado com a vovó, parecia que estava indo buscar um teste de gravidez ou esperando a lista de aprovados do vestibular, de tão ansiosa.
Quando li o resultado, meu mundo desabou. 
Eu fiquei muito, muito desesperada porque a pele estava contaminada e a sugestão era um suposto câncer que eu tenho muito medo. Comecei a chorar muito e a tremer, não conseguia mais raciocinar. 
Liguei para a tia Malu e ela não atendeu, mandei mensagem para o papai e ele estava no aeroporto indo para São Paulo e ficou meio sem saber o que fazer. 
Precisei de alguns minutos para me recompor e fui para o hospital tentar conversar com o tio Enaldo. 
Cheguei lá, sentei na recepção, comecei a conversar com o papai e com o tio Nazir por mensagem e a chorar muito, muito mesmo e a tia Aninha Lara estava lá também, eu nem tinha visto ela direito e ela veio me abraçar e perguntar o que estava acontecendo.
Falei que tinha buscado o resultado do meu exame e queria conversar com o Enaldo. 
Todo mundo ficou meio desesperado quando me viu, porque eu nunca estou chorando, sempre chego rindo e brincando e dessa vez eu não conseguia mesmo parar de chorar e o tio Enaldo não ia conseguir conversar comigo e pediu para marcar no outro dia de manhã e a tia Ana Amélia que é gerente da oncologista veio conversar comigo, me chamou no consultório e ficamos conversando até ela conseguir me acalmar, nem sei quanto tempo isso demorou, mas quando fui marcar o horário com o tio Enaldo no dia seguinte, o papai mandou mensagem falando que tinha pedido para a tia Lu encontrar com a gente no hospital e ela apareceu do nada! 
A vovó estava bem nervosa e foi bom a tia Lu ter ido encontrar com a gente. 
Eu já estava bem mais calma quando a tia Malu ligou e fomos conversar com ela. Depois fomos para o tio Nazir e foi ótimo. 
Ele fez acupuntura e fiquei super bem. 

No dia seguinte fomos conversar com o tio Enaldo e ele explicou tudo que poderia estar acontecendo e que a gente precisava esperar o resultado do Imunohistoquímico para saber exatamente qual tratamento fazer, mas que ele descartava a sugestão de câncer inflamatório, porque não estava característico e pelo tempo, se fosse, era para estar pior. 
Era o que eu queria escutar e no fundo era o que eu estava mais preocupada mesmo. 

10 dias depois, o resultado saiu e não fui buscar, marquei com ele e fomos lá conversar. Ele falou que eu estava com um outro câncer, diferente do anterior e que um não tinha nada a ver com o outro. 
Que não tinha sido encontrado células do outro câncer no organismo e que eu iria interromper o tratamento preventivo e iniciar um novo tratamento. 
Falou também que a melhor coisa que eu poderia ter feito era a retirada da mama e agora era para iniciar uma nova quimioterapia. 


Quando penso nisso, vejo o tanto que Deus me guiou para insistir nessa cirurgia, desde a primeira cirurgia da mama eu estou insistindo na retirada preventiva da outra, mesmo não tendo indicação. Insisti tanto que consegui convencer a tia Malu, Deus tocou o coração dela e o câncer estava lá. 
É o que sempre falo: Conheça o seu corpo, siga seus instintos e escute os sinais de Deus! Nunca perca a fé!!!
Continuamos na luta!


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