quarta-feira, 11 de julho de 2018

Outros Jeitos de Usar a Boca

Ser mulher neste país, como em muitos outros lugares do mundo, é travar batalhas diárias por direitos mínimos, por liberdade, por segurança... E nessas lutas tão cotidianas para nós, esbarramos com histórias cruzadas, histórias que se assemelham ou mesmo histórias idênticas que só mudam de endereço, muitas delas são comuns na experiência de traumas que vivemos enquanto ainda éramos crianças. 

É difícil ser mulher! Muitas feridas marcam nossa história de resistência e luta feminina, mas também parte dessa dor cicatriza e vira solo fértil para um belo jardim e, assim, conseguimos transformar tudo que nos roubou de nós em arte com muito de nós. 

E isso é herança, como as que vieram antes de nós nos deixaram um legado, nós também precisamos deixar isso para os que estão nascendo. 

Existem tantos livros interessantes de mulheres, famosas e outras nem tanto, que conseguem partilhar trajetórias brilhantes, de superação, de representatividade, de empoderamento, de conhecimento, de força! 

Faça esse exercício: leia mais escritoras, leia mais o que as mulheres têm para partilhar, leia sobre as grandes mulheres que mudaram a história e com frequência não são lembradas, leia sobre as mulheres da atualidade que enfrentam e ocupam espaços cercados de machistas. Leia mulheres! 

E não tenha medo, mulher, de partilhar sua arte também!

Um livro que conheci e amei (por ser muito impactante) foi outros jeitos de usar a boca.




Que livro! Intenso, poesia nua e crua. Tem amor, sexo, força, luta, feminismo e tem dor, abuso, violência, perda, traumas... 

É difícil descrever o livro de Rupi Kaur porque, como ela mesma descreve em um de seus poemas, a arte é aquilo que o coração e alma acham do trabalho. E meu coração ficou em êxtase durante toda a leitura por me identificar tanto com tudo exposto ali. Por me levar aos momentos amargos da vida, mas também por incitar todo o prazer de sobreviver. 

O livro é dividido em quatro partes: a dor, o amor, a ruptura e a cura. Em cada uma dela é exatamente isso que sentimos ou lembramos de já ter sentido. Para além das divisões estruturais, também é sobre amor próprio, sobre autoconhecimento, sobre respeito às diferenças, sobre sororidade, sobre ser mulher nesse mundo.

Partilho alguns trechos do livro e muito recomendo a leitura do volume completo:

você tem o hábito
de depender
dos outros para
compensar aquilo que
você acha que não tem
quem te fez
cair na história
de que outra pessoa
deveria te completar
se o máximo que alguém pode fazer é complementar


quero pedir desculpas a todas as mulheres
que descrevi como bonitas
antes de dizer inteligentes ou corajosas
fico triste por ter falado como se
algo tão simples como aquilo que nasceu com você
fosse seu maior orgulho quando seu 
espírito já despedaçou montanhas
de agora em diante vou dizer coisas como
você é forte ou você é incrível
não porque eu não te ache bonita
mas porque você é muito mais do que isso


todas nós seguimos em frente quando
percebemos como são fortes
e admiráveis as mulheres 
à nossa volta



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