terça-feira, 8 de agosto de 2017

O Futebol, A Mulher, A Mãe e A Jornalista



Sempre tive uma paixão enorme por esportes e sempre participei dos times da escola, dos campeonatos e até dos joguinhos de bairro. 

Sou de uma família tradicionalmente apaixonada pelo futebol, mas, apesar de ter meu time de coração e torcer por seu sucesso, nunca fui das mais fervorosas. 

Não sou fanática por nada em especial, admiro todas as modalidades e sempre gostei de jogar tudo o que estivesse ao meu alcance. Nesse percurso, principalmente na época em que fazia atletismo, era comum esbarrar com um olhar de reprovação, com algum comentário carregado de sexismo. 

Quem nunca presenciou (ou até mesmo foi vítima) uma situação em que uma mulher fez um comentário sobre futebol e vozes masculinas vieram logo abreviar seu som? Essa redução da expressão feminina quase sempre vem carregada de uma explanação machista, daquelas como "mulher não entende de futebol". 

Não acredite nisso! Não acredite em nada que te faça menor!

Tenho um exemplo de uma grande mulher, de mulher de luta, de mulher que gosta e entende de futebol e que hoje dá voz para tantas outras mulheres que costumam guardar esse gosto para se enquadrar em algum lugar... 


O futebol, a mulher, a mãe e a jornalista

Já há algum tempo, veio o convite para escrever neste espaço. A falta de tempo adiou, no entanto já desenhava o primeiro texto. Ao pensá-lo, as linhas já se emaranhavam de maneira fácil e bem lúcida.

O futebol desde muito nova foi paixão, trazida à minha vida pelo coração de um tio. Minha mãe mesmo gostando muito não teve o trabalho de transmitir a mim o que ela sabia viver. Ele nem precisou se esforçar muito bastou me levar ao Mineirão. A troca imediata entre a menina e a arquibancada lotada pela Massa, selou uma união eterna.

Dali até a vida adulta, enfrentei por diversas vezes olhares condenatórios. A mocinha “tão bonitinha, indo pro estádio, parecendo um machinho,” com aquelas camisas largas, cantando aquelas músicas todas (porque sim, eu cantava todas, mesmo indo à missa todos os domingos).




Adulta, tive os primeiros enfrentamentos com homens que olhavam assustados uma mulher que falava sobre futebol sem medo e com propriedade.

Tive um filho aos 24 anos e fui eu, a mãe, que o levou pela primeira vez ao estádio.





Fiz faculdade, escolhi jornalismo. Acreditando piamente que o jornalista completo fala de tudo e estuda tudo, mas ainda assim sendo inevitável que o coração pulse de maneira acelerada pelo esporte. Inevitável ainda que eu não reconheça quanta coisa é preciso vencer principalmente quando o assunto é futebol.

Ali as lutas são enormes. Há uma enorme cortina de fumaça quando se tenta falar sobre misoginia, porque ela está disfarçada de exaltação à beleza feminina. Ali há lutas enormes, porque também é preciso falar de racismo, homofobia. Mas a maioria não quer falar.

Aí me lembro da menina que aprendeu a gostar de futebol e de ir ao estádio, que foi mãe, que ensinou o filho a amar o mesmo time que ela e que trava dia após dia uma batalha para que ele entenda que brincadeira muitas vezes vira coisa séria e mata, machuca o outro, coloca o outro na lona.

Aí me lembro da mulher, que é mulher e pode ser linda e pode ser profissional sem que uma coisa seja associada ou condicionada à outra.

Aí lembro que posso sonhar, mas que não posso nunca é deixar de lutar. Nem pelo futebol, nem pela mulher, nem pela mãe, nem pela jornalista, nem por nada que acredite.



Leide Botelho / Jornalista
Twitter: @leidebotelho
Facebook: Leide Botelho


É um relato inspirador, não é?! Esta é a minha prima, que é mãe, jornalista, amante de futebol e da luta por um mundo mais justo para as mulheres.

Não tenha vergonha ou medo dos seus gostos. Não ache que é feia sua paixão por coisas culturalmente classificadas como de homens. 

A heteronormatividade violenta os gostos, desejos, sonhos e paixões de muitas mulheres. 

Você pode sim! Empodere-se!



 

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