terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Mudando com a família, e agora?



Em um mundo de cada vez mais viajantes buscando experiências, vôos e lugares, talvez não seja tão assustador eu contar que  eu mudo com minha família de dois em dois anos em média! Talvez muitos até desejem a oportunidade de ter uma vivência como essa, uma bagagem ao fim da vida repleta de culturas, pessoas, lugares desbravados por completo: conhecidos, vividos e sentidos intensamente como uma morada deve ser.

Mas nosso mundo é cheio de opiniões, diferentes pensamentos e os desafios, de fato, podem assustar. Algumas pessoas me olham com piedade, outras sentem um pesar imenso pelo tipo de vida que a Cecília terá, sem raízes "coitada!".

Demorei para escrever esse texto, demorei para assimilar tanta transformação que minhas poucas mudanças já fizeram em mim, para escrever sobre o que eu acho, o que eu faço, separando daquilo que não é meu.

Até os 5 meses Cecília morou em nossa cidade: Belo Horizonte, MG foto da viagem para um povoado próximo.

Nossas raízes

Vocês já pararam para pensar que é praticamente impossível que a raíz da sua família seja exatamente o lugar que você mora hoje? Independente de quem fez o movimento: seu avô que veio do interior para a capital; o bisavô que saiu da fazenda e foi tentar a vida num povoado; o tataravô que veio de outro país para o Brasil... Alguém precisou buscar a oportunidade para a sua construção pessoal, ter uma família e ver os filhos crescerem para caso eles precisassem, também saíssem dali para seu "lugar ao sol". 

Porque esse movimento tão natural, hoje, é visto com tanta estranheza? Abandono da família, das raízes, do seu lugar? Onde está escrito que o meu lugar é o lugar escolhido por outra pessoa que não seja eu, seja ela meu pai, avô, bisavô, etc?

A partir dos 6 meses, por dois anos. Cecília morou em Resende RJ. Foto da viagem para Paraty, RJ.

Meu marido é militar e a profissão dele exige que ele tenha vivência por todo território brasileiro, é claro que em algumas situações conseguimos ficar mais em um lugar, mas a vida cigana faz parte da nossa realidade. A nossa raíz não é em um local, é em nossa unidade familiar: nós e nossos filhos. A nossa raíz, fortalece o nosso amor, nossa cumplicidade e nossa parceria para contarmos um com outro sempre. Um dos motivos de querer muito o segundo filho foi esse, dar uma irmã para minha filha, porque nós nos temos, somos a nossa fortaleza e isso não tem nada de horrível, é maravilhoso a gente dar conta do nosso núcleo familiar, sermos inteiros ali, cumprirmos os nossos papéis, para que a nossa felicidade se estenda para todo o restante de nossos parentes.

Sempre tento fazer o aniversário da Cecília em Belo Horizonte, pois é uma forma de reunir todos os parentes para que ela saiba onde está uma parte do nosso coração, não menos importante, mas que precisamos ter na memória, no amor, no carinho e pouco na presença.

A dor e a delícia da vida cigana

Para fazer da mudança uma rotina periódica é necessário muito jogo de cintura! Em todo lugar, por melhor que sejam suas instituições de saúde, educação, segurança e tudo mais, você encontrará problemas em diferentes proporções, pessoais e/ou sociais. Não vá para um lugar somente pela qualidade de vida que você terá lá, com a melhor escola para seus filhos e uma saúde impecável. Em todo lugar as instituições são feitas de pessoas, e nesse relacionamento pessoal a melhor escola pra um não é para outro, tudo depende de como cada um se relaciona. Então você precisa pesar o lado pessoal: você será feliz nesse lugar? O que você precisa para ser feliz nesse lugar? 

Aos quase 3 anos, Cecília mudou para Natal, RN. foto na praia de Ponta Negra

Não é a estrutura de um lugar que te fará feliz: gente precisa de gente! Não tenha medo de pegar o carro para conhecer a cidade, todo lugar tem suas belezas naturais perto e não há nada melhor que desfrutar disso; se não for trabalhar por algum motivo e for acompanhar alguém, se inscreva em uma academia, grupo de alguma atividade que goste, curso, participe das atividades da escola do seu filho e faça amigos por lá!

Pra gente que vive dentro da "bolha militar", essa parte tem sua facilidade: a família militar! Está todo mundo mudando de um lado para o outro, então as pessoas se unem por afinidade, contam umas com as outras mesmo e isso faz com que se criem laços que duram para a vida toda! Os filhos dos amigos te chamam de tio e fazemos sobrinhos por todo país! Eu amo essa parte!

A dor? A saudade, sempre ela! Na primeira mudança a gente sente saudade da família e dos amigos daquele lugar que chamamos de "nossas raízes". E aí minha gente, o negócio vai só aumentando! A gente passa a ter saudade, uma saudade que dói de pelo menos uma outra família especial que fez parte da sua vida de uma maneira indescritível; uma saudade de momentos incríveis com cada amigo que fazemos pelo caminho. E dessa dor, vem a delícia de poder fazer parte da vida de muitas pessoas, poder fazer amigos para a vida, conhecer gente nova e amar cada vez mais pessoas, crianças e até bichinhos que não são seus! Nós somos felizes, sentimos saudades porque amamos, não há motivo para piedade e achar que isso é algo ruim. Amor nunca é demais!

A maneira com que eu enxergo as pessoas hoje e a transformação no meu olhar para aceitar cada uma como é, é algo grandioso, algo que com certeza eu preciso trabalhar nessa vida e eu sou muito grata por essa experiência incrível de somar tantas culturas, realidades, jeitos e trejeitos em minha vida. É algo de uma grandiosidade sem tamanho, se você se permitir é claro, e eu tenho tentado. Cecília está crescendo se permitindo, pra ela é tão mais fácil, acreditem! Entre erros e acertos vou seguindo somando tanto, mas tanto a minha vida, que não consigo mensurar, só agradecer!

Beijos








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